Afastada do cargo pela Justiça desde outubro, Micarla de Souza tem gastos mensais que superam os ganhos anuais, como mostra reportagem de VEJA
Marcelo Sperandio
92% de rejeição - Micarla de Sousa nega as acusações, mas não convence a população
Folha salarial de dezenove funcionários domésticos, como motorista,
faxineira, governanta e secretária: 21 500 reais. Gastos com roupas e
relógios: 5 800 reais. Viagens internacionais: 35 000 reais. Reparos na
casa: 11 600 reais. Esses são alguns dos gastos mensais de Micarla de
Sousa (PV), afastada da prefeitura de Natal no mês passado sob acusação
de desviar dinheiro de contratos públicos. A conta chegava a 180 000
reais por mês - mais do que todo o ganho declarado por Micarla durante
um ano, de 168 000 reais (seu salário era de meros 14 000 reais).
A investigação do Ministério Público do Rio Grande do Norte começou em
2011 e detectou problemas em várias áreas da prefeitura. Os primeiros
indícios de irregularidades surgiram em contratos da Secretaria de
Saúde, que somavam 65 milhões de reais - e, segundo os promotores, eram
superfaturados. O episódio alcançou, por acaso, a pasta da Educação. Em
apreensões feitas nas casas de secretários municipais, foram encontradas
planilhas sobre distribuição de propina. Esses documentos informavam
que Micarla ficava com 10% do valor total dos contratos de uniformes
escolares e merenda. O marido da prefeita, Miguel Weber, levava 5% dos
uniformes e 2% da merenda, de acordo com as planilhas. Só nesse caso,
concluiu o Ministério Público, o casal amealhou 194 000 reais. Foi
nesses arquivos que os promotores localizaram as tabelas com os gastos
pessoais da prefeita afastada de Natal, totalmente incompatíveis com os
seus rendimentos - ao menos os oficiais.
A irregularidade típica do dinheiro sujo - que não cai todo mês na
conta, como o salário dos funcionários honestos - ajuda a explicar o
malabarismo que assessores de Micarla tinham de fazer para lidar com os
problemas bancários da chefe. Francisco de Assis, coordenador da
Secretaria de Saúde mas na prática secretário particular da prefeita,
era um dos mais atarefados. Em uma das interceptações autorizadas pela
Justiça, Micarla lhe enviou a seguinte mensagem de celular: “Assis, dá
uma olhada na minha conta e nos meus cartões. Me diga quanto eu tenho
disponível e veja se minha conta tá o.k. ou se voltou algum cheque”. Em
seguida, Assis respondeu: “Saldo devedor de 27 500 reais. Temos que
resolver essa situação, pois os cartões estão no momento bloqueados”. Em
outra, ele ligou para a gerente da prefeita no Banco do Brasil.
Perguntou como estavam os saldos da conta-corrente e dos cartões de
crédito de Micarla, porque ela viajaria para Miami. A gerente informou:
“Entrou um cheque hoje e faltaram 200 reais. O total do saldo devedor é
32 900 reais. O cartão dela está com restrições”. Em algum momento,
pressupõe-se, a conta deixou o vermelho, já que Micarla continuou com
crédito. Mas só no banco. Entre a população, não se pode dizer o mesmo: a
rejeição é de 92%. Descrédito total.
Fonte: Veja Online
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