Um Roteiro Que Une Mar e Sertão, Sertão e Mar!
Autor – Rostand Medeiros
Fotos – Ricardo Sávio Trigueiro de Morais
Recentemente, a convite do amigo Ricardo Sávio, estivemos revendo as cavernas e a grande área de afloramento de calcário localizado ao norte da área urbana de Jandaíra. Conheço esta região desde 1987 ou 1988 e vale a pena cada retorno para vivenciar esta natureza sertaneja!
Jandaíra, município localizado na Região do Mato Grande, Rio Grande do Norte, está a cerca de 117 quilômetros da capital potiguar, sendo atravessado pela BR 304, rodovia que liga Natal a regiões de grande e tradicional atratividade turística, tanto a nível regional como nacional, como é o caso da bela praia de Galinhos.
O município de Jandaíra apresenta diversas áreas com ocorrência de cavidades naturais, sendo que sua caracterização geológica constitui-se pela Formação Jandaíra, Grupo Apodi, correspondendo a uma sequência carbonática que mergulha suavemente em direção à costa atlântica. Essa gênese carbonática, favorece a ocorrência de cavernas, dolinas e ravinas em vários pontos do município, servindo como áreas de pousio e reprodução de aves, répteis e mamíferos, típicos da Caatinga e importantes agentes polinizadores e difusores de sementes deste Bioma.
Contudo, Jandaíra não tem utilizado este fator como elemento de desenvolvimento, principalmente pela falta de atrações e infraestrutura que possam despertar o interesse de visitação turística, tanto para entretenimento, como também para turismo escolar, científico ou de aventura.
Mas tem muito que mostrar, como vemos nas imagens do grande afloramento de calcário aqui apresentadas pelas lentes do amigo e fotógrafo Ricardo Sávio.
Temos neste local a interessante e crua beleza típica da caatinga, em uma área de fácil acesso, a pouco mais de um quilômetro do município de Jandaíra.
Sem dúvida este local poderá ser uma ótima opção para complementar o turismo que atualmente se destina, com extremo sucesso, para a região de Galinhos.
Para quem não conhece a geografia potiguar, pode parecer um tanto estranho à ideia de levar turistas para uma parada destinada a conhecer a caatinga, cavernas e depois levá-los para um dos melhores pontos do nosso litoral.
Mas ao mesmo tempo, já pensaram que contraste interessante!
Não podemos esquecer que é no Rio Grande do Norte, o estado nordestino onde proporcionalmente a caatinga possui a maior cobertura em termos territoriais, que este Bioma praticamente alcança a beira mar!
Em todo o Brasil isso só acontece aqui!
A caatinga, com todos os seus aspectos característicos, é única no mundo e só em terras potiguares poderíamos imaginar um roteiro que unisse mar e sertão, sertão e mar!
Evidentemente que um tipo de roteiro como este tem (e deve) ser minuciosamente elaborado. A caatinga tem suas belezas, mas igualmente possui características que se não forem bem analisadas, podem não ser tão confortáveis aos visitantes.
Já em relação às cavernas, estas então é que necessitam de um cuidado extremo. Pois são ambientes frágeis, algumas delas com uma fauna extremamente delicada e rara, que não suportariam uma visitação desordenada.
Em relação aos visitantes tem de ser realizado todo um trabalho informativo, de preparação em relação ao ambiente a ser visitado, utilizando elementos da educação ambiental, além de cuidados com o bem estar dos turistas e outros aspectos importantes.
Como comentamos anteriormente, as cavernas do município de Jandaíra têm atraído, de maneira informal e desordenada visitantes do próprio município, de municípios vizinhos e até mesmo de Natal, curiosos por conhecer a mística das cavernas, impregnados no imaginário popular. Além disso, há ainda a utilização das cavernas como áreas de diversão, por parte de parcela da comunidade local, promovendo piqueniques e momentos de lazer em seu entorno.
A área de afloramento de calcário de Jandaíra, aqui apresentada nas fotos de Ricardo Sávio, compreende grande parte das cavidades naturais existentes no município, estando estas ameaçadas pela mineração clandestina e desmatamento indiscriminado.
A atividade turística pode oferecer uma alternativa a estas atividades degradadoras, implicando em impactos positivos sobre o meio ambiente, ao mesmo tempo em que oferece meios para melhorar as condições de vida da população local.
Como no caso dos jovens Hyurann Oliveira e Jan Pierre Martins, que estiveram conosco nesta visita. Estes jovens moram em Jandaíra, amam as cavernas do seu lugar e eles amanhã poderiam, ou não, sobreviverem da atividade turística em sua própria região!
Durante a nossa visita, o amigo e jornalista Everton Santos, ficou verdadeiramente encantado com o que viu e, junto com Ricardo, debatemos bastante sobre a utilização positiva desta área de cavernas.
Percebemos que a ausência um planejamento tecnicamente embasado, orientado para utilização turística e de uma infraestrutura capaz de receber os visitantes, tem feito com que esse patrimônio natural esteja submetido à ação de degradação, visto a quantidade de lixo presente na área, à presença de resíduos orgânicos humanos (fezes e urina) e a depredação do patrimônio espeleológico, que varia desde a pichação das paredes e a retirada criminosa de espeleotemas (cortinas, estalactites, estalagmites etc.), mostrando a necessidade de algo que regulamente e regule a interação entre aproveitamento turístico e conservação dos recursos naturais, fazendo surgir um novo arranjo produtivo local, com bases sustentáveis.
Nada impede que se possa estudar com seriedade este processo e analisar a viabilidade de sua execução.
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