Euripedes Dias

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Com redes sociais, disseminação de boatos pode ultrapassar o mundo virtual


Quem conta um conto aumenta um ponto. E com as redes sociais, os riscos da disseminação de boatos podem ultrapassar o mundo virtual, caso da dona de casa linchada em Guarujá (SP). O retrato falado que teria motivado a ação dos populares foi divulgado pela Polícia Civil do Rio em 2012 em inquérito sobre a tentativa de sequestro de um bebê. A imagem foi publicada no início de abril por uma usuária do Facebook moradora do interior de Santa Catarina, replicada quase 16 mil vezes e levou pânico aos quatro cantos do país.
— A internet potencializou o conto do vigário. É impossível mensurar o estrago que isso pode causar — explica Gilmar Lopes, criador do site E-farsas, especializado em desmentir rumores on-line. — Os boatos têm padrões. Não são datados e possuem informações imprecisas, para serem usados em outras situações. A história do voto nulo cancelar eleição vai voltar este ano.
No caso em questão, o texto que acompanhava o retrato falado citava “uma sequestradora pela redondeza”, que teria capturado “mais ou menos 37 crianças para fazer magia negra”. A página do Facebook “Guarujá Alerta” pode ter sido mais uma enganada.
— Não acredito em má-fé. Eles também caíram no boato — diz Lopes.
Os boatos, conhecidos como “hoaxes”, acompanham a internet desde o seu surgimento. No início, as falsas histórias circulavam por e-mail, com o objetivo de capturar o máximo de endereços para o envio de spams. Nas redes sociais, são usados para gerar “curtidas” e aumentar o público das páginas ou instalar aplicativos maliciosos nos computadores.
— Historicamente, os “hoaxes” não trazem muitas consequências, apenas mobilizações que acontecem nas redes sociais por alguns dias, até serem superados por outro boato. Dificilmente saem para o mundo real — afirma Thiago Tavares, presidente da ONG SaferNet Brasil.
Para o especialista, o caso de Guarujá aponta para outra questão fora do mundo virtual: a falta de credibilidade do Estado. Segundo Tavares, o enfraquecimento das instituições responsáveis pela segurança pública abre espaço para a ação de justiceiros. As redes sociais só refletem esse sentimento latente da população.
Na internet, os rumores circulam livremente porque os filtros são os próprios usuários, sem compromissos com checagem e apuração dos fatos.
O Globo

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