Muitos vitorinenses não entenderam o critério para a seleção da estrada das fazendas, sobretudo porque bairros da área mais urbana da cidade ainda têm ruas de terra que viram lama em períodos chuvosos. “Eu moro em área urbana há mais de dez anos, em rua não calçada. Não seria melhor asfaltar aqui e beneficiar a mim e meus vizinhos?”, escreveu um morador no Instagram do ministro. “Tanto dinheiro jogado fora vai servir pra ele não pegar poeira até a fazenda”, comentou outro.
“Enquanto isso, o povo que aguente as ruas esburacadas. Eles tentam entrar em contato com a prefeita para ajeitar as ruas, mas não dão um sinal de resposta”, disse mais uma seguidora. Cobranças de explicações e queixas sobre outras ruas não pavimentadas, à espera de serviços, levaram o político a restringir novos comentários na rede social.
Vitorino Freire tem 33 mil habitantes. Na comparação com cidades do mesmo porte, o reduto de Juscelino Filho foi privilegiado com repasses federais para pavimentação. Em Cururupu, município de 32 mil habitantes que fica no Norte do Estado, 87% das pessoas estão em ruas de terra. De 2016 a 2022, a cidade recebeu R$ 1,4 milhão para asfaltar ruas. No mesmo período, Vitorino Freire obteve R$ 19 milhões, dos quais R$ 8,4 milhões diretamente de Juscelino.
Ao ser questionado sobre os motivos que o levaram a direcionar verbas para asfaltar a estrada que dá acesso às suas terras, o ministro Juscelino Filho alegou que o serviço vai beneficiar “diversas comunidades”. Ele admitiu o envio do orçamento secreto para pavimentar o trecho.
A prefeitura de Vitorino Freire (MA) não informou quantas ruas não têm asfalto. O secretário de Administração, Josué Lima de Alencar, explicou o critério para priorizar a terra do ministro: “A gente faz o levantamento das ruas e escolhe os trechos”.
O atual ministro das Comunicações, Juscelino Filho, direcionou, em 2020, duas emendas de relator, base do orçamento secreto, no valor total de R$ 2,932 milhões ao município de Vitorino Freire (MA) quando era deputado federal;
A prefeita do município, Luanna Resende, irmã de Juscelino, contratou, por meio de licitação, a Mubarak Construções para executar a obra;
A Mubarak está registrada em nome de Hygonn Lima, mas o verdadeiro dono é o empresário Diogo Tito, amigo pessoal de Juscelino e dirigente do União Brasil. Ele foi recebido no gabinete do ministro em 11 de janeiro deste ano.
Estadão Conteúdo