Euripedes Dias

domingo, 7 de janeiro de 2018

Jovens de Jandaíra vão aumentar produção de mel.



Jandaíra, a 120 km de Natal, leva o nome da abelha nativa sem ferrão que rende aos jovens da Associação de Jovens Agroecologistas Amigos do Cabeço (Joca) o mel de jandaíra. É por meio da extração do mel de maneira sustentável que eles tiram a própria renda e agora se preparam para expandir a produção com uma unidade de beneficiamento certificada, em construção pelo Governo do RN em parceria com o projeto Governo Cidadão, Sethas e Banco Mundial.

Adeptos do movimento Slow Food e com lugar marcado desde 2008 na Terra Madre Salone Del Gusto, evento que acontece na Itália a cada dois anos, os meliponicultores de Jandaíra querem conquistar no Rio Grande do Norte o mesmo prestígio que já têm internacionalmente. E para isso têm uma meta audaciosa: aumentar a produção que já chegou a 275kg/ano para uma tonelada anual. Só para se ter uma ideia, uma garrafa de 200g custa em média R$ 25.

“Estamos no processo de multiplicação das colméias e distribuindo nas casas de cada família da comunidade. Nossa ideia é chegar a 100 caixinhas, com cada uma produzindo um quilo de mel por ano”, diz o tesoureiro da Joca, Francisco Medeiros, 32. Mas quem pensa que o trabalho é meramente exploratório se engana: os jovens da Associação fazem toda a preservação das abelhas e constroem as próprias caixinhas que servem de enxames, após aprenderem a confeccioná-las em um curso de marcenaria básica. Tudo para preservar a espécie em extinção.

“A concentração dessa abelha aqui é muito forte e antes as pessoas exploravam de maneira errada. Vendiam de forma irresponsável, só para obter o lucro. Foi aí que começamos a preservar a espécie”, conta a presidente da Joca, Cilene Teixeira, 31. Muito usado como remédio natural e também na gastronomia, o mel de Jandaíra já chegou ao restaurante do chef Alex Atala, em São Paulo, que usou o item no preparo do jantar magno do evento Prazeres da Mesa, em setembro passado.

Com um sabor mais suave, menos doce e de consistência mais líquida, o mel extraído no Povoado do Cabeço teve seu valor agregado atribuído naturalmente, sem necessidade de investimento em marketing. Com a unidade de beneficiamento perto de ficar pronta, eles esperam envolver toda a comunidade no processo e ampliar os horizontes com a criação da cozinha comunitária, onde vai ser possível beneficiar e agregar valor aos alimentos produzidos pela agricultura familiar, transformando-os em geléias, doces, picles, entre outros.

Os produtos hoje são comercializados em um box na Central de Comercialização da Agricultura Familiar, em Natal, mas o objetivo a partir de agora é ampliar este e conquistar novos mercados. “O trabalho realizado em Jandaíra é singular e tem enorme potencial para chegar aos mercados mais distantes. A unidade de beneficiamento vai proporcionar certificação de qualidade e ampliação dessa produção”, destaca o coordenador do Governo Cidadão, Vagner Araújo.

A Joca é composta de jovens de 18 a 35 anos oriundos da agricultura familiar, que aprenderam com os pais e avós a extração do mel. Já foram beneficiados por programas das Nações Unidas e o GEF, do Governo Federal. O projeto do Governo Cidadão visa a reforma de prédios para instalação de unidade de beneficiamento e armazenamento de mel de Jandaíra, cozinha comunitária e espaço de capacitação. Serão fortalecidos a meliponicultura, horticultura, fruticultura e caprinocultura em toda a comunidade de 45 famílias. Os investimentos somam R$ 420 mil, sendo quase R$ 72 mil de contrapartida da associação.

Por Robson Pires 

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