Euripedes Dias

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Sem viatura, polícia só assiste homicídios em Jandaíra.

Matéria do Portal No Ar

Pequena cidade registrou 4 homicídios somente em 2018; 3 nesta terça

Por Ayrton Freire

ITEP RECOLHE CORPO DE FRANCIÉLIO NOGUEIRA DA SILVA, O PELADO (FOTO: EURÍPEDES DIAS) 
Quatro casas com as portas arrombadas. Em uma delas, um casal morto na cama em que dormia. Numa outra residência, um homem também é encontrado sem vida, caído no piso. Foi este o cenário da madrugada desta terça-feira, 23, em Jandaíra, município da microrregião da Baixa Verde do Rio Grande do Norte.

A pequena cidade com menos de sete mil habitantes, de acordo com dados do IBGE disponibilizados no ano passado, registrou quatro homicídios somente nos primeiros 23 dias de 2018. Isso porque uma semana atrás, José Carlos Bezerra Viana, foi o primeiro a morrer.

Carlinhos de Zé Almeida, como era chamado, era conhecido pelo engajamento na política. Ocupou cargos de confiança na Prefeitura de Galinhos e até tentou se eleger vereador nesse município, vizinho a Jandaíra. A morte dele, na semana passada, chocou a população e levou muitas pessoas ao sepultamento.

O assassinato de Carlinhos de Zé Almeida ainda era o principal assunto nas rodas de conversa da cidade até esta terça-feira. “Hoje, a cidade poderia ter amanhecido com cinco mortes só durante a noite porque mais duas casas, além das que estavam com os corpos, foram arrombadas. A sorte dos alvos é que um conseguiu fugir e o outro não estava”, revelou ao PORTAL NO AR, o sargento Francisco Canindé da Silva, que trabalha na cidade.

Gutemberg Marques da Silva, conhecido como Gutinho, e a companheira, Margarete Pedro da Silva, não tiveram como escapar. Morreram sobre a cama na qual descansavam por volta das 2 horas, quando o crime ocorreu. Assim como eles, Franciélio Nogueira da Silva, o Pelado, também não teve como se livrar da morte.

Os homicídios que aterrorizam Jandaíra podem ficar sem solução. Os policiais militares da cidade não contam sequer com uma viatura para trabalhar. Há dois meses, o veículo quebrou durante uma perseguição que só acabou em João Câmara. “Para atender as ocorrências, vou no meu próprio carro. Não posso deixar a população a mercê dos bandidos”, disse o sargento chamado de Kiko pelos  jandairenses.

As ocorrências atendidas pelo sargento e pela equipe formada por mais seis policiais militares são levadas à Delegacia de Polícia Civil de João Câmara, que atende a cinco municípios. Responsável pela investigação, o delegado Joacir Rocha também foi procurado pela reportagem.

Perguntado sobre o que fazer para elucidar os casos homicidas em Jandaíra, o delegado revelou também ser um refém da crise vivida pelo estado na segurança pública.

“Não tem como fazer nada. Eu trabalho com dois agentes e um escrivão para dar conta de cinco cidades. Em João Câmara, a principal delas, a gente só consegue resolver 5% dos casos. Nesse momento, estou aqui sozinho na delegacia, se alguém quiser me matar me mataria facilmente. É periclitante. Com as condições de trabalho que temos a gente não investiga, apenas ouve o povo. É o que estamos fazendo, ouvindo os familiares das vítimas de Jandaíra”, declarou.

Baseado nos depoimentos que conseguiu colher, o delegado acredita que os homicídios têm relação com o tráfico de drogas. A opinião é a mesma do sargento, que mora na cidade: “Conheço eles. Eram traficantes ou usuários”, assegurou.

O número de mortos em Jandaíra neste ano pode subir a qualquer momento. Isso porque um homem raptado há mais de 20 dias ainda está desaparecido. Nem a Polícia Militar nem a Polícia Civil souberam dizer quem é. “O que sabemos é que foi pego quando trafegava de moto, mas ele não é daqui. Estava de passagem pela cidade”, informou o sargento, reforçando que quem vê os crimes tem medo de colaborar com as forças policiais.

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