A presidente Dilma Rousseff e o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, vão se reunir em 17 de junho, dia seguinte da estreia da seleção americana de futebol na Copa do Mundo. O encontro, já acertado entre as chancelarias, segundo informação obtida pelo GLOBO, ocorrerá em Natal, palco do jogo entre EUA e Gana, ao qual Biden assistirá. A presidente já estaria no Nordeste, para a partida entre Brasil e México no Castelão de Fortaleza.
A reunião começou a ser costurada na posse da presidente do Chile, Michele Bachelet, em março, quando Dilma e Biden tiveram um encontro descrito como muito afetuoso. Ambos sentaram à mesma mesa na recepção oficial.
No clima descontraído, o americano teria perguntado à brasileira se ela não gostava mais dele – Biden esteve no Brasil em maio do ano passado e foi ao Palácio do Planalto. A presidente respondeu o convidando para assistir ao Mundial no Brasil. Biden disse que iria. A diplomacia americana viu a atitude de Dilma como um gesto informal de reaproximação. A decisão de marcar a reunião foi dos EUA.
O encontro representará a retomada do diálogo de alto nível entre os dois principais países das Américas, interrompido em agosto do ano passado após a revelação de que Dilma foi espionada pela Agência Nacional de Segurança (NSA). Documentos sigilosos confirmando o grampo foram vazados pelo ex-técnico da CIA Edward Snowden e publicados com exclusividade no Brasil pelo GLOBO.
Após o episódio, do qual fizeram parte ainda suspeitas de monitoramento ilegal das atividades da Petrobras e de diversas nações latino-americanas, Dilma cancelou a visita de Estado que faria aos EUA em outubro. Na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em setembro, a presidente discursou condenando o governo de Barack Obama e pedindo regras globais para coibir a espionagem indiscriminada.
O azedume não ficou restrito ao relacionamento entre os chefes de Estado e chanceleres. Os mecanismos de consulta e diálogo de alto nível entre os dois parceiros engataram a marcha lenta nos últimos nove meses.
Neste período, as conversas entre Palácio do Planalto e Casa Branca ficaram em suspenso. O Brasil exigia pedido de desculpas e comprovação do fim da vigilância. Os EUA, que nunca negaram a espionagem dos telefones de Dilma, alegavam questões de segurança nacional.
Obama, em discurso em janeiro, disse que os Estados Unidos não tinham pelo que se desculpar perante o mundo, apesar de determinar a suspensão de qualquer monitoramento de chefes de Estado, salvo com autorização expressa do comandante-em-chefe, em caso de grave ameaça aos interesses americanos.
No entanto, na mesma semana, a chefe do Conselho de Segurança Nacional, Susan Rice, convidou o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, para encontro em Washington, para explicar as modificações nas diretrizes de espionagem americanas.
Além disso, Rice garantiu o envio ao Brasil de uma delegação para seminário internacional sobre governança da internet promovido com grande interesse pelo governo brasileiro, que ocorreu na última semana de abril.
Desde março, vários integrantes do primeiro escalão do governo dos EUA visitaram o Brasil, com agendas carregadas de simbolismo. A número 1 da diplomacia americana para a América Latina, Roberta Jacobson, subsecretária de Estado para o Hemisfério Ocidental, esteve no país para “reafirmar o compromisso” com o programa de intercâmbio de estudantes, xodó de Dilma.
Já o secretário do Tesouro, Jack Lew, deu longas explicações ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre os planos da Casa Branca para destravar a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI). A revisão das cotas, que elevará o poder dos países emergentes no organismo, vem sendo bloqueada pela oposição republicana no Congresso e é prioritária na agenda global brasileira.
Os gestos parecem ter quebrado o gelo que dominava as relações bilaterais.
Os EUA também fizeram afago público no Brasil em relação à Copa, em evento no Departamento de Estado para marcar o giro do troféu oficial da competição pelos EUA _ ao qual Biden compareceu e no qual também discursou. O secretário de Estado americano, John Kerry, enalteceu, em português, o “jogo bonito” do país e se disse “muito, muito satisfeito” com a oportunidade de o Brasil mostrar seu dinamismo ao mundo durante o Mundial.
- Já vimos o poder do Esporte em unir as pessoas e é isso que veremos na Copa do Mundo no Brasil, um país que há muito tempo é anfitrião de extraordinárias conversas entre continentes e culturas. Também é um país que é orgulhoso de mostrar como se joga o jogo bonito, celebra a diversidade e celebra a excelência. Os EUA e o Brasil são, de tantas maneiras, parceiros naturais. Apesar de diferenças ocasionais que podem surgir, compartilhamos compromissos com a democracia, a diversidade e a determinação de aumentar as oportunidades de nossos povos. Estou muito, muito satisfeito que o mundo terá a oportunidade de ver o dinamismo do Brasil em primeira mão ao longo deste verão (inverno no Hemisfério Sul) – afirmou Kerry, na ocasião.
O Globo
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