Foto: Hector Retamal/AFP
A cidade chinesa de Wuhan, na província de Hubei, berço do novo coronavírus, começou neste sábado a aliviar a quarentena em que se encontra desde o dia 23 de janeiro. Após a abertura de parte das estradas para que pessoas pudessem entrar no local, o governo reativou parte das linhas de trem para desembarque: sair da cidade, como previamente anunciado, só será possível a partir do dia 5 de abril.
Após ser completamente isolada do resto do país por dois meses, a reabertura da cidade marca um ponto de virada e uma vitória política do governo chinês no combate ao vírus que, globalmente, já infectou mais de 600 mil pessoas em 178 países e territórios, segundo o levantamento da Universidade Johns Hopkins. Ao todo, Wuhan sozinha registrou mais de 50 mil casos do novo coronavírus – cerca de 60% de todos os contágios na China –, com ao menos 3 mil mortes.
Medidas draconianas de isolamento, no entanto, levaram a uma redução drástica, ao menos aparente, nos casos nas últimas semanas em todo o país. Segundo a Comissão Nacional de Saúde chinesa, entre sexta e sábado foram registradas 54 infecções pela doença no país, todas elas importadas. Em Wuhan, o diagnóstico mais recente da doença foi na última segunda-feira.
O número total de infecções na China continental é 81.394, com 3.295 mortes. A maior parte dos novos casos foi registrada em Xangai, 17. Outros 11 casos foram em Guangdong, seis em Fuijan, cinco em Tianjin, quatro em Zheijiang, três em Beijing e Liaoning, dois na Mongólia e em Jilin e um em Shandong.
Com os Estados Unidos, a Itália e a Espanha como os novos epicentros da Covid-19, o governo chinês vem tomando medidas para conter os casos importados, que especialistas temem desencadear uma nova onda da doença. A partir deste sábado, Pequim suspendeu a entrada de estrangeiros com vistos ou residência chinesa. As rotas de voos internacionais também foram reduzidas em 90%. A cautela, segundo as autoridades, é essencial para evitar um novo crescimento exponencial dos casos.
A reabertura de Wuhan, no entanto, é cercada de dúvidas. Teme-se que, para fomentar o discurso político de derrota do Covid-19, o governo chinês venha subnotificando os casos de infecção em Wuhan. A China já não contabiliza casos assintomáticos da doença – que, segundo pesquisas, podem não só representar boa parte dos infectados, mas também serem amplamente contagiosos –, mas há relatos de que até mesmo pessoas com sintomas típicos da doença não estão sendo inseridas nas estatísticas em Wuhan.
O retorno prematuro das atividades, especialistas e moradores argumentam, também poderia causar uma nova onda da doença. Ainda assim, pessoas em trajes completos de proteção e voluntários ocuparam a ferrovia da cidade durante a manhã, distribuindo desinfetantes e lembrando os cidadãos de que precisavam mostrar o QR code verde concedido pelo governo – sinal de que tem boa saúde – para poder seguir viagem.
Buscando evitar uma nova onda da doença, as autoridades chinesas também revogaram a abertura de cinemas e teatros, segundo a imprensa estatal do país. O governo também faz um apelo para que seus cidadãos usem máscaras para evitar novos contágios – algo cuja eficácia é discutida entre especialistas.
– O grande erro dos EUA e da Europa, na minha opinião, é que as pessoas não usam máscaras – disse George Gao, diretor-geral do Centro de Controle e Prevenção de Doençås chinês. – Muitas pessoas têm infecções assintomáticas ou ainda não começaram a mostrar sintomas. Se estiverem usando máscaras, ela pode prevenir que partículas contaminadas escapem e contaminem outras pessoas.
O Globo
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