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quinta-feira, 14 de março de 2013

Conhecendo sua cidade: Professor de História Anchieta Pinto em pesquisa resgata um pouco da história da cidade de Jandaíra/RN


"O que me impulsionou a realizar esse trabalho de pesquisa foi o fato de não existir algo concreto e atualizado sobre a história do nosso município. Assim sendo, acredito que esse trabalho possa auxiliar e contribuir nos estudos das futuras gerações jandairenses". Frisou o professor.

Ainda segundo o professor Anchieta, ele informou que irá disponibilizar esse trabalho em exemplares para cada escola do município.

Vale a pena ler o relato feito pelo professor até o final. Se você é natural do município, morou ou mora nele é bom conferir e ficar por dentro das origens da cidade.

Por PINTO, Anchieta. Jandaíra “A Origem”. 

 Jandaíra é um município que se localiza no estado do Rio Grande do Norte na Região do Mato Grande, a 120 km da capital Natal. Tem mais de 6 mil habitantes entre a área rural e urbana.

Sua emancipação ocorreu em 27 de Dezembro de 1963, quando foi desmembrado do município de Lajes, passando a ser o mais novo município do Estado naquela data.

O município concentra sua economia na produção da cal que é produzido nas caieiras (forno de alvenaria que queima a pedra com o combustível da lenha). Essa atividade caiereira existente no município vem ocorrendo desde os primórdios, causando grande destruição e impacto ambiental nas redondezas, devido à extração de lenha e pedra, destruindo o habitat natural de muitos animais da região, modificando o cenário da fauna e flora. Por outro lado tem sido uma atividade necessária para economia do município, pois durante muitos anos foi a maior fonte de renda para muitos pais de família. Bem como no seu comercio interno, feira livre que ocorre aos domingos (uma tradição no município), mercadinhos e lojas diversas, e a fonte de renda publica (Prefeitura municipal).

Os primeiros moradores a chegar à comunidade e constituir famílias, foram os Messias e Fernandes as mais conhecidas. Outras como: Santos, Lopes, Aguiar, Matias, Damasceno, Ferreira, Pinto, Martins, Costa, Estevam, Marinho, Ricardo, Alexandre, Lima, Roque, Nunes, Justino, Pinheiro, câmara, Lourenço, Oliveira, Silva e outras que também constituem essa grande família Jandairense.

Em entrevista com o senhor Francisco Bento Messias de 67 anos, filho do senhor Diomédio Messias da Cruz e da senhora Severina Lima da Cruz, como já foi citado um dos primeiros moradores de Jandaíra. Ele relatou: Entrevista em fevereiro 2013.

“Meus pais quando chegou aqui foi morar lá com os mamedios, naquelas casinhas velhas próximo daqui, no “olho d’água” que existe até hoje, eles eram primos”.

Caverna do Letreiro uma das principais cavidades do município
Esse olho d’água é uma das mais de 30 cavidades geológicas existentes neste município, essas cavernas, além de existirem pinturas rupestres mesmo que apagadas ou rasuradas pelo tempo e por pichação, existem também histórias de contemporâneos terem usado-as como moradia. Mas isso é outra história a ser publicada, em breve.

Eles vieram da cidade de Lagoa Dantas, nos anos entre 25 e 30. Chegaram com um filho e os outros nasceram aqui já em Jandaíra. Tempos depois meu pai construiu uma casinha aqui próxima (na BR 406), e aí todos crescemos aqui em Jandaíra e constituímos famílias.

Poço instalado na comunidade de Campo Serra Verde
O município tem registros desde 1941, reconhecido pelo governo do Estado da época, pesquisa feita por Anfilóquio Câmara, quando foi reconhecido por Poço de Jandaíra, um pequeno povoado com poucas casas. Com base nessa pesquisa de Anfilóquio onde ele cita Poço de Jandaíra, iniciamos outras pesquisas no intuito de enriquecer essas informações para que possam servir para futuras pesquisas, e assim fixar na memória dos jandairenses sua própria história. Pensando nisso fizemos buscas na comunidade por depoimentos ligados a época e por esse poço, e descobrimos que na verdade são vários poços construídos naquela época pelo DNOCS, (DEPARTAMENTO NACIONAL DE OBRAS CONTRA AS SECAS), onde encontramos várias informações valiosíssimas para nosso trabalho de pesquisa na sua página na internet.

Poço instalado na Comunidade de Aroeira
O DNOCS se constitui na mais antiga instituição federal com atuação no Nordeste. Criado sob o nome de Inspetoria de Obras Contra as Secas – IOCS através do Decreto 7.619 DE 21 de outubro de 1909 editado pelo então Presidente Nilo Peçanha, foi o primeiro órgão a estudar a problemática do semi-árido. O DNOCS recebeu ainda em 1909 (Decreto 13.687), o nome de Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas – IFCOS antes de assumir sua denominação atual, que foi conferida em 1945 (Decreto-Lei 8.846, de 28/12/1945), vindo a ser transformar em autarquia federal, através da Lei nº 4229, de 01/06/1963.

Feitas as pesquisas, podemos relatar que a formação deste município vem de bem antes da pesquisa feita por Anfilóquio. Esse município e outros da redondeza tiveram um grande aliado já na década de 30, quando o governador Raphael Fernandes Gusmão, ordenou perfurações de poços tubulares, na região do Mato Grande e em outras regiões nas proximidades de Mossoró. Com isso a migração foi acontecendo naturalmente das cidades e povoados vizinhos. Em pesquisas realizadas no município fizemos a contagem de 5 poços construído na década de 30, um no distrito de Aroeira em 1937, um outro no distrito de Trincheiras, cuja a data não foi possível visualizar por motivo de depredação, outros dois no Campo de Serra Verde (distrito pertencente  a quatro municípios, Galinhos, Pedro Avelino, Lajes e Jandaíra). Esses dois construídos no Campo de Serra Verde, um tem sua datação de 1937 e sua localização fica na parte pertencente à Jandaíra, o outro com a datação 1935 fica na parte que pertence a Galinhos, com uma distância de 200 metros entre ambos. Na sede (Jandaíra), encontra-se uma perfuração da época, mas também, não foi possível visualizar suas informações por este se encontrar desativado. É importante saber que esses poços tiveram uma grande importância no crescimento deste município, uma vez que o Governador Raphael Fernandes Gusmão, autorizou essas perfurações em pontos onde se concentravam povoados as margens da BR – 406, e específico neste município com distância entre cinco a dez quilômetros entre ambos, as pessoas matavam sua sede e de seus animais e se aproximavam um dos outros concentrando-se mais na sede. Assim sendo, acreditamos que este município tenha muitas histórias a ser pesquisadas que ocorreram antes e depois das perfurações desses poços. Isso fica visível no relato do Sr. José Pinto:

Certo dia sai com meu irmão Zé Antônio lá da Serra da Macambira pra pegar água em Jandaíra nesse poço que fica aqui na rua da frente, (BR 406) era seis carga de barril, cada jumento levava uma, quando cheguei no poço tinha uma fila que não tinha tamanho, era galão, barril e burros por todo lado.....Isso era comum naquela época senhor José? Sempre que o ano era fraco de chuva essa era a solução, pegar água nos poços mais próximo toda semana, isso foi no ano de 45 pra 48, nesse dia saímos pra pegar água no poço lá no alto de trincheiras, porque aqui estava cheio de gente. Más seu José, entre Serra da Macambira e Trincheiras são mais de trinta e cinco quilômetros, pra ir e voltar como vocês faziam esse percurso? Quando a gente saiu era escuro pra amanhecer, na volta já era noite, isso tudo só com rapadura e farinha. (entrevista em 2013 Janeiro. Senhor José Pinto dos Santos, 78 anos aposentado e morador de Jandaíra desde de 1934).

Praça da Igreja Matiz de São José Operário
Jandaíra fica localizada entre Lajes e Caiçara do Norte. Naquela época o comércio entre as cidades era realizado com bastante dificuldade, pois não existiam estradas asfaltadas que facilitasse o acesso entre ambas. Com isso, essas transações comerciais ocorriam de forma precária e lenta em cima de jumentos comandados pelos “tropeiros”, era assim que eram conhecidos os comerciantes que faziam esse tipo de negociação no lobo do jumento. Os tropeiros negociavam lenha, peixe e mel. Essa lenha era extraída das redondezas de Lajes e Jandaíra, o peixe pescado em Caiçara do Norte e o mel extraído nas matas do então município. Nessas transações os tropeiros fixavam ranchos no interior de Jandaíra para descansarem.

Cortiço de Abelha Jandaíra
Neste meio tempo, praticavam a extração do mel da abelha “Jandaíra” que existia na área e de onde veio o nome do município. Naquela época a abelha era em grande quantidade, por se tratar de uma região com muita mata virgem e por ser pouca explorada dava as condições favoráveis para a Abelha produzir o mel. A extração era feita de forma artesanal e individual, sua comercialização era feita por troca com outros alimentos para ajudar na subsistência das famílias dos agricultores na época. Hoje a abelha “Jandaíra” está em extinção, às poucas restantes encontra-se produzindo o mel em uma espécie de cativeiro “o Cortiço” (pequeno compartimento feito de madeira com um só furo). A extração do mel ainda hoje é feita de forma individualizada por poucos apicultores existentes na cidade, mas com um diferencial, a extração é feita com roupas e equipamentos adequados na maioria das vezes.

Produção de Algodão
A cidade foi seguindo seu curso anos após anos com sua economia aumentando lentamente, mas com garantias de dias melhores com as produções de algodão, agave, cal, criação de animais (gado, caprinos, ovelha) e a extração do Mel. Hoje o município continua crescendo economicamente e em habitantes com a chegada da usina eólica em vários municípios do estado e no próprio município jandairense, pessoas de varias partes do estado tem migrado para Jandaíra em busca de empregos e atraídos pela calmaria que é essa comunidade, seus moradores filhos e filhas de agricultores ajudam nesse crescimento trabalhando, estudando e se qualificando nas mais diversas áreas do conhecimento, acreditando em uma vida cada vez melhor.

De onde viemos? Quem somos? E para onde vamos?

Feliz aquele que conhece sua história e sua descendência. Pois só assim entenderá a importância da vida e a missão que tem no desenvolver da caminhada.

Anchieta Pinto


Anchieta pinto, nasceu em Jandaíra/RN em 1977, filho de José Pinto dos Santos e Aurina Lourenço dos Santos. É Licenciado em História pela Universidade Vale do Acaraú (UVA), e Especialista em Educação Ambiental e Geografia do Semiárido pelo Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), Campus Macau/RN.

Pesquisa e texto: Professor Anchieta Pinto;

Correção Ortográfica: Professora Pedagoga Cristiane Martins;

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SANTOS, J. P. Jandaíra “A Origem”: depoimento. [10 de Janeiro, 2013]. Jandaíra/RN, Entrevista concedida a Anchieta Pinto.

MESSIAS, F. B. Jandaíra “A Origem”: depoimento. [21 de Fevereiro, 2013]. Jandaíra/RN, Entrevista concedida a Anchieta Pinto.

DEPARTAMENTO NACIONAL DE OBRAS CONTRA AS SECAS. Manual de referências bibliográficas. Disponível em: www.dnocs.gov.br. Acesso em: 14 de Dez. 2013.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA  Manual de referências bibliográficas. Disponível em: www.ibge.gov.br. Acesso em: 15 de Nov. 2012

Jandaíra em Foco

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