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terça-feira, 12 de junho de 2012

Uma morte anunciada


Uma morte anunciada
Idoso morre atropelado em Igapó. Pedestres têm medo de usar túnel sob o Complexo Ulisses de Góis

Francisco Francerle



O idoso José Francisco Tavares, 82 anos, que morreu ontem, pela manhã, vítima de atropelamento na avenida João Medeiros Filho, ao lado do Complexo Viário Professor Ulisses de Góis, será apenas mais um número nas estatísticas de acidentes de trânsito, se o Poder Público não der uma solução urgente para prover a segurança dos milhares de pedestres que diariamente transitam no trecho entre os bairros de Igapó, em Natal e Jardim Lola em São Gonçalo. 




Túnel localizado sob o Complexo Viário Professor Ulisses de Góis está sem manutenção e segurança. Fotos: Fábio Cortez/DN/D.A Press

A morte do idoso foi o que se pode dizer de uma "morte anunciada", pois ao invés de passar pelo túnel que dá acesso ao outro lado da avenida e à parada de ônibus, ele preferiu tentar atravessar a avenida, que tem um grande fluxo de veículos, e terminou sendo colhido por uma motocicleta que vinha no sentido centro-zona norte. A ambulância da SAMU chegou 30 minutos depois, já era tarde, o ancião já tinha ido a óbito, deixando apenas a reflexão de que o trajeto que lhe levou à morte é o mesmo feito pela grande maioria das pessoas que transitam no local. 



O motoqueiro Marcos Santos de Medeiros, 47, ficou ferido após o acidente.

José Francisco foi atropelado pela motocicleta Suzuki preta, de placa MYS - 0763 conduzida por Marcos Santos de Medeiros, 47, que ficou ferido após o acidente.

Ou seja, os pedestres preferem atravessar a avenida, assumindo todos os riscos de acidente, do que usar o túnel, o que tem provocado muitos acidentes com mortes. Ao ser consultada ontem, pela reportagem, infelizmente a Polícia Militar não tinha dados de atropelamentos nesse local da avenida João Medeiros Filho. A estatística que se tem vem de relatos como o do funcionário público, Antônio Batista Lima, que presenciou o acidente de ontem: "no mês passado, nesse mesmo lugar, meu cunhado Francisco Canindé de Souza foi atropelado e morreu porque não pegou o túnel e tentou atravessar a avenida para ir até a parada", conta ele. 

Descaso

Mas o que pode até parecer insano tem uma explicação: o descaso do poder público transformou o túnel um lugar inseguro e ninguém se arrisca passar por ele por medo de assalto, estupro ou simplesmente por não suportar a fedentina de fezes e urina. Com uma extensão de aproximadamente 50 metros, o túnel não tem iluminação, todas as dezesseis luminárias foram depredadas e não mais repostas, a fiação está exposta e as câmeras que instaladas foram roubadas. E o mais surpreendente é que toda essa depredação e clima de insegurança tem acontecido praticamente ao lado da base do 4º Batalhão de Polícia Militar (Batalhão Potengi), que tem a presença permanente de policiais. 



A falta de iluminação causa insegurança aos usuários do túnel em Igapó.

No momento do acidente, devido ao engarrafamento e tumulto no local, algumas pessoas resolveram pegar o acesso. Uma delas foi a assistente administrativo, Bianca Karoline, 17, que reside na zona norte. Ela confessou não costumar pela passar pelo túnel porque tinha nojo de pisar no local, ser assaltada ou até sofrer uma agressão. A estudante Priscila Moreira da Silva, 17, também fez o mesmo relato: "o medo me afasta desse lugar, é sinistro, só serve para usuário de droga e assaltante. Vários colegas de minha escola foram assaltados e foram agredidos e ficou por isso mesmo, não temos escolha, o jeito é se arriscar atravessando a avenida", disse ela.



Bianca Karoline (D) e Priscila Moreira usaram o túnel após o acidente: "sempre tivemos muito medo"

DNIT

O Diário de Natal procurou a Superintendência Regional do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes), responsável pela sinalização da via em que o túnel está localizado, e foi informado de que o órgão precisa fazer uma análise do projeto inicial do Complexo Ulisses de Góis para poder afirmar se ele contemplava ou não a sinalização da passarela subterrânea. 

De acordo com a assessoria de comunicação do DNIT/RN "é provável que não haja uma sinalização no local, pois o túnel se encontra em uma calçada, logo "supostamente" não existe a necessidade de haver uma placa indicando que ele está ali." 

fonte: diario de natal







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