Raphaella Brukxild, presidente da Avarn: “A atividade sempre foi masculina, mas quando conquistei minha independência, ninguém me segurou. É uma coisa que está no meu sangue. É o meu mundo”.
Uma tradição muito popular no Nordeste, e tipicamente voltada para o público masculino, está invadindo o mundo dos “batons”: a vaquejada. Considerado o estado que deu o primeiro passo para a prática legal da vaquejada, o Rio Grande do Norte destaca-se agora como o primeiro estado a incentivar a atividade feminina, através da criação da Avarn – Associação das Vaqueiras do RN.
Pode ser estranho visualizar mulheres cumprindo papéis de vaqueiros, nos quais, sob um bom cavalo de raça, têm de perseguir o boi até emparelhá-lo e conduzi-lo ao local a ser derrubado. Para isso, necessariamente, é preciso utilizar a força. Porém, quem já circunda por esse mundo garante que o domínio da técnica pode ser a principal ferramenta até a derrubada do boi. “O segredo para se derrubar um boi em vaquejada é possuir técnica e um bom cavalo. Isso qualquer mulher pode ter e dominar até melhor que os homens”, destaca Raphaella Brukxild, presidente da Avarn.
Segundo ela, o fato de ser mulher – e com apenas 22 anos – não torna a prática do esporteuma atividade impossível. “Hoje a mulher está inserida em todas as áreas que um dia foram consideradas impossíveis de serem conduzidas pelo público feminino. Isso prova que nós podemos fazer qualquer coisa que os homens fazem. O preconceito existe, mas a Avarn está em atividade no RN para mostrar que também podemos derrubar um boi”, disse.
Raphaella conta que sofreu preconceito até em sua casa, uma família de vaqueiros. “Eu sou de Natal, mas fui criada em interior, montada em cima de um boi. Porém, nunca tive permissão do meu pai para competir nas vaquejadas. Sempre foi uma atividade masculina. Mas quando conquistei minha independência, ninguém me segurou. É uma coisa que está no meu sangue, é o meu mundo. Seria muito difícil me impedirem disso”, contou, ela que atualmente trabalha como gerente de um supermercado da família e faz curso superior em Direito.
“Muitos participantes de vaquejada botam cara feia quando vêem que iniciará uma categoria de mulheres. Mas a participação feminina só tende a crescer”, afirmou a vaqueira. Através das redes sociais, a Associação das Vaqueiras do RN já contabilizou a existência de mais de 100 vaqueiras em todo o estado.
O vaqueiro e tesoureiro da Avarn, Marco Aurélio Fernandes de Melo, reforçou a importância da criação da Associação como forma de incentivo para o crescimento do esporte feminino. Com 22 associadas, ele conta que a Avarn já teve repercussão até em outros estados do país. “Há uns 15 anos a vaquejada era praticada e presenciada apenas por homens. É um esporte que exige força, preparo, conhecimento técnico e muitas vezes considerado perigoso. Não imaginávamos que um dias as mulheres fossem se fazer presentes e eis que hoje estamos defendendo essa causa”, disse. “Um amor que antes era passado de pai para filha, hoje tomou tamanha proporção. Elas, que antes não tinham nenhum incentivo, agora dominam a arte e, mais do que isso, podem fazer o que gostam”, destacou Marco Aurélio.
“Não é porque correm em vaquejada que deixam de ser mulheres”
Defensor nato da atividade feminina, o vaqueiro e divulgador da Avarn, Ribamar de Aguiar Júnior, declarou que há inúmeras meninas em todo o estado que se privam da vaquejada por ser um esporte tipicamente masculino. “Através das redes sociais nós estamos vendo o quanto há mulheres interessadas na vaquejada. Não é porque correm em vaquejada que deixam de ser mulheres. A prova disso é que elas vão à derrubada do boi maquiadas, com unhas feitas e bem produzidas. Isso se torna um atrativo à parte”, avaliou.
Fonte: Site Jornal de Hoje.
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