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sábado, 28 de março de 2020

Bolsonaro não acredita no número de vítimas do coronavírus em SP e põe em dúvida ainda os números de casos na Itália.

O presidente Jair Bolsonaro Foto: Divulgação

Em meio a um embate com o governador João Doria (PSDB), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse na tarde desta sexta-feira (27) que não acredita nos números de casos de coronavírus no estado de São Paulo. Para ele, os números podem estar superdimensionados.

O número de óbitos relacionados ao novo coronavírus no estado de São Paulo cresceu 209% em cinco dias, segundo balanço da Secretaria da Saúde divulgados nesta sexta-feira. No último domingo (22), o estado registrava 22 mortes, contra 68 agora.

“Está muito grande para São Paulo. Tem que ver o que está acontecendo aí. Não pode ser um jogo de números para favorecer interesse político”, disse o presidente em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, da TV Bandeirantes. O jornalista insistiu no questionamento, indagando se ele não acreditava nos dados de São Paulo. “Não estou acreditando nesse número”, afirmou Bolsonaro.

Antes, sem querer confirmar que estava falando de São Paulo, acusou que está havendo uma fraude.

“Sem querer polemizar com ninguém, tem um estado aí que orientou por decreto que, em última análise, se não tiver uma causa concreta do óbito, bota lá coronavírus para colar”, afirmou.

“Procura saber, por estado, quantos morreram por H1N1 até o momento. Não é que eu queria que tenha morrido. Ano passado foram 700 pessoas mais ou menos. Vai ter que ter alguém que morreu este ano disso aí. Se for todo mundo com coronavírus, é sinal de que o estado está fraudando a causa mortis daquela pessoa, querendo fazer uso político de números. Isso a gente não pode admitir”.

“Vamos enfrentar o vírus. Vai chegar, vai passar. Infelizmente, algumas mortes terão, paciência, acontece, e vamos tocar o barco”, afirmou.

“Porque as consequências, depois, dessas medidas equivocadas [decretos dos estados e municípios fechando o comércio], vão ser muito mais danosas do que o próprio vírus. Não podemos ter um remédio que final das contas a dose vai ser tão grande que o número de problemas vai ser muito maior que o vírus em si. É questão de bom senso”, acrescentou.

Ao chegar no Palácio da Alvorada no fim da tarde desta sexta, Bolsonaro foi questionado por jornalistas sobre suas afirmações. Ele disse que está analisando o decreto de São Paulo sobre o tema. “Pelo o que parece sempre que possível bota um Covid-19 ali [na causa mortis]. Agora o número de mortes em São Paulo é muito maior do que no Rio de Janeiro. É um número de 60 mais ou menos [são 68], que fica difícil para estatística. Espero que pare por aí”.

O presidente foi perguntado uma primeira vez o que Doria ganharia ao inflar números de mortes no estado.

“Por favor. Não quero fazer… não vai levar para fofoca aqui. João Doria faça a sua parte lá e eu faço a minha aqui”, respondeu.

Em seguida, Bolsonaro foi questionado por provas que embasassem sua acusação.

“Ô cara, você vê números, cara. Não vou mais responder a você”, reagiu o mandatário, dirigindo-se ao repórter.

À TV Bandeirantes o presidente pôs em dúvida ainda os números de casos na Itália, país que registrou nesta sexta 919 novas mortes provocadas pelo novo coronavírus, o maior número diário desde que a pandemia atingiu o país, no começo deste ano. O recorde anterior havia sido registrado em 21 de março, quando 793 pessoas morreram.

“O vírus evolui. Nós temos informações do mundo todo de como as pessoas estão sendo tratadas. Inclusive, certos mitos estamos desfazendo, como a questão das mortes na Itália. A maioria das mortes não tem nada a ver com o coronavírus, nada a ver. São pessoas que estavam em uma região fria e todos com uma média de idade de 80 anos”, disse Bolsonaro.

Ele afirmou que terá uma reunião com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, neste sábado (28), no Palácio da Alvorada, para dar um “pequeno redirecionamento do que está sendo feito até agora”.

Bolsonaro disse que, entre as mudanças que serão discutidas, está uma possível adoção do isolamento vertical, aquele em que apenas integrantes do grupo de risco ficariam isoladas. Ele disse que há também a ideia de contratar hotéis para acolhimento de idosos infectados e outros para não infectados.

“Para nós, aqui no Brasil, pode ser que não seja tudo isso que aconteceu em alguns países”, afirmou o presidente.

Bolsonaro disse que o país tem que voltar à normalidade “imediatamente” e voltou chamar a Covid-19 de “gripezinha”.

FOLHAPRESS

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