Por Josias de Souza
Carlos Eduardo Sobral, presidente da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), criticou a forma como a Operação Carne Fraca foi divulgada na última sexta-feira. “Acho que houve um equívoco de comunicação”, declarou. Para ele, o erro foi ter afirmado que se tratava da “maior operação da Polícia Federal, sem explicar que, na verdade, foi a maior em quantidade de mandatos, mas não em valores investigados, importância e relevância social.”
O delegado prosseguiu: “Evidentemente, na visão dos fatos, que havia corrupção praticada por parte dos fiscais, havia. Pode ter problemas em alguns frigoríficos? Pode. Agora, se isso foi um problema sistêmico, não ouvi os colegas da operação falando isso. Mas, quando se coloca que foi a maior operação da história da polícia, leva ao entendimento que é algo muito maior que pode ser na prática. Então, acho que nesse ponto, em particular, pode ter sido um erro de comunicação.”
As declarações foram feitas durante uma entrevista, na noite desta segunda-feira, em Florianópolis (SC), onde se realiza um Congresso Nacional de Delegados de Polícia Federal. No comando da principal entidade sindical da corporação, Carlos Eduardo ecoou críticas que se disseminaram entre autoridades do governo de Michel Temer e empresários do setor agropecuário. Todos acusam o delegado Maurício Moscardi Grillo, responsável pela Carne Fraca, de ter sucumbido ao pecado da generalização.
Encontram-se na alça de mira da operação 21 frigoríficos dos 4.837 sujeitos à inspeção do Ministério da Agricultura. Desses 21, apenas três unidades foram interditadas. De um total de 11.300 servidores da pasta da Agricultura, somente 33 foram afastados por conta da investigação. Vem daí o tiroteio que criva o delegado Maurício Moscardi de críticas. Vai abaixo a entrevista de Carlos Eduardo Sobral, veiculada pelo jornal Diário Catarinense:
— Sobre a operação Carne Fraca, como o senhor avalia? Houve erro por parte da PF? Eu acho que houve um equívoco de comunicação quando se afirma que foi a maior operação da Polícia Federal, sem explicar que, na verdade, foi a maior quantidade de mandatos, mas não em valores investigados, importância e relevância social, talvez, dando a entender, que ela foi maior do que realmente pode ter sido. Evidentemente, na visão dos fatos, que havia corrupção praticada por parte dos fiscais, havia. Pode ter problemas em alguns frigoríficos? Pode. Agora, se isso foi um problema sistêmico, não ouvi os colegas da operação falando isso.
Mas, quando se coloca que foi a maior operação da história da polícia, leva ao entendimento que é algo muito maior que pode ser na prática. Então, acho que nesse ponto, em particular, pode ter sido um erro de comunicação. Não que operação não devesse ocorrer, deveria e ocorreu. Fiscais serão investigados. Há uma crise sistêmica? Pelo menos do que foi divulgado na operação, ninguém afirmou nesse sentido.
— Foi um erro, então, de comunicação, com relação à dimensão da operação e não ao conteúdo? O que eu acompanhei foi pela imprensa, não faço parte da investigação. É que foi divulgado, e nós temos sempre dois direitos. O da sociedade ter a informação e o sigilo das informações. São direitos que temos que compatibilizar. É muito complicado levar informação sem ofender direitos dos investigados.
Nós vimos a divulgação da operação informando que houve prisões e que alguns frigoríficos estavam sendo, realmente, objetos da operação e, ao ser divulgado, quando a mídia repercutiu, aliado ao fato de que a comunicação informou como sendo a maior operação da história, gerou então que, se é a maior operação da história, logo, há uma crise sistêmica e isso foi um estopim para, quem acompanhou distante, que havia uma crise.
— Algo pode ser feito para reparar isso? Sempre é possível explicar. Uma informação se corrige com mais informação. Agora é ter mais transparência. Divulgar de forma clara os números, as quantidades. Explicar os fatos, evidentemente, mantendo o sigilo do que ainda precisa ser mantido. E, realmente, se for uma crise sistêmica, divulgar como tal. Se não for, precisa ser dito, com muita transparência, que foi pontual. A informação precisa ser clara e direta.
— A operação poderia ter sido deflagrada antes? Eu não tenho detalhes da investigação. É muito difícil para quem está de fora falar o momento certo de deflagrar. O que normalmente acontece é que, quando há um fato que coloca em risco a vida de pessoas, de alguma forma, nós agimos para não comprometer a investigação, mas também para que isto não chegue ao consumidor ou à pessoa. Você alia, por exemplo, se está investigando o crime organizado, que se agir naquele momento não vai prender a quadrilha, mas se não agir, alguém pode morrer. De algumas formas, procuramos evitar que aquilo aconteça, sem que a investigação seja publicizada. Do que eu vi, quando havia risco de algum produto chegar ao consumidor, algumas medidas eram acionadas para evitar isso. Então, se segue com a investigação, mas não permite que a saúde seja prejudicada. É comum em operações dessa envergadura.
— A polícia ainda fala que há mais detalhes a serem informados. Esses detalhes podem justificar o alarde da operação? Seria uma irresponsabilidade, um chute, da minha parte presumir que há interceptações, algo comprometedor, porque pode ser que não tenha. Enfim, eu não teria condições de afirmar o que há na investigação. O que sei é que, no momento em que se deflagra a operação, aquele material se torna público para os investigados. Então o que havia ali nos autos até aquele momento, vai ser de conhecimento dos investigados, até por conta da defesa. O que há de coletado, vai ser informado.
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