Em época de eleição, não é só no horário político e nos debates da TV que as divergências políticas ficam mais expostas. Na internet, as redes sociais acabam se tornando espaços antissociais, onde amigos se exaltam, se ofendem e, por fim se bloqueiam.
Que o diga a diretora de mídia mobile, Dede Sendyk, 46, que volta e meia recebe avisos de que será bloqueada.
“Uma vez foi por causa dos protestos do ano passado. uma colega de escola que eu não via havia anos me mandou uma mensagem explicando por que ia me bloquear. Aliás, isso é típico, sempre sou avisada, deve ser um padrão. Recentemente eu declarei meu voto. Fui avisada por um conhecido que odeia o PT que vai me adicionar de novo no futuro porque adora meus posts. Não deu tempo de explicar que ele podia apenas me seguir, nem que eu mudei meu voto uns dias depois. O povo adora meus posts fúteis, mas se incomoda com os engajados. Não é à toa que o Tiririca ganha sempre viu?”, afirmou.
Quem também sofre muito bullying nas redes sociais por suas opiniões é Rui Barbosa, um designer de 33 anos da cidade de Araraquara (SP). Segundo ele, os tópicos mais polêmicos das redes sociais hoje em dia, tanto quanto a campanha eleitoral, são a criminalização da homofobia, legalização da maconha e discussões sobre feminismo.
“Alguns amigos eu simplesmente escondi da minha timeline, mas um em especial eu tive que bloquear mesmo. Posição politica de extrema direita realmente me incomodava. É aquele padrão: tudo culpa da Dilma, tudo culpa do PT… Do tipo que acha que bolsa-familia é esmola, reclama de manifestação porque não consegue andar de carro… E ainda havia o ‘agravante’ de ele ser empresário. Na visão dele isso elevava ainda mais sua opinião. Agora, o mais engraçado foi ver gente me questionando por eu me chamar Rui Barbosa e ter opiniões de esquerda. Se eu me chamasse Roberto Carlos, eu teria de ser cantor…”, brinca.
Já o diretor de criação Eduardo Viola, 32, acha que os meses de agosto e setembro são um verdadeiro inferno. “O Facebook se transforma em um palanque! É de dar nos nervos!” No entanto, diz que por posições políticas nunca bloqueou ninguém, mas que já tomou um puxão de orelha válido.
“Uma vez fiz um post malcriado, ofensivo e generalizado sobre os crentes, e um colega de profissão, no mais alto da sua elegância e educação me escreveu umas mensagem privada para que eu refletisse sobre as palavras que havia dito. Se eu realmente pensava aquilo tudo etc. E acho que as redes sociais e seus debates políticos servem um pouco pra você trazer alguns assuntos a tona, colocar na mesa, inflamar e, às vezes, refletir ou repensar algumas coisas. É óbvio que sei que isso não é um padrão, mas enxergo que assim seria o melhor uso da ferramenta. É a mesa de bar on line! Infelizmente, sem cerveja!”
O peso da escrita
Um ponto levantado pelo produtor cultural Zeca Bral, 30, é o quanto as palavras escritas parecem mais agressivas do que seriam em uma conversa real. Ele, no entanto, procura não bloquear as pessoas. Apenas para de seguir.
“Acredito na possibilidade de ser mal interpretado nas redes, o que poderia ser evitado numa conversa tête-à-tête que dispõe de mais recursos dialógicos, além do infalível olho-no-olho. O tom de voz, a postura com que se estabelece a comunicação fora da rede muda toda a percepção. Por isso há que se ponderar algumas interpretações, praticar tolerância.”
Mesmo com tantas discussões, bloqueios, demonstrações de intolerância e preconceitos revelados, os entrevistados pela reportagem do UOL ainda acham que as redes sociais trouxeram um aspecto positivo para as relações.
Na opinião do roteirista Leonardo Luz, 34, as redes sociais incutiram nas pessoas uma vontade de emitir opiniões. “Isso obriga as pessoas a pensarem nessas opiniões, coisa que muita gente nao fazia. O problema é ter uma opinião baseada em manchetes ou em ‘o fulano me falou’, sem tentar se aprofundar mais.”
Luz conta que já recebeu diversas reclamações de suas postagens. “Dizem que sou radical demais, que eu sou muito ‘anti-PT’. Me chamam de tucano o tempo todo. Reaça, porque sou totalmente contra as drogas. Mas acho que se perdeu a amizade por causa de política, não devia ser amigo antes.”
O ator curitibano Diego Fortes, 32, também acha que de um modo geral a troca intensa de informações é benéfica.
“Pra quem tem cérebro, acho um instrumento bastante poderoso. Pra quem não tem… Bom, aí, só serve pra desfilar frustrações mesmo. Por isso que eu tiro uns e outros. Mas eu vejo um movimento interessante que é o de alguém comentar algo bem raso e preconceituoso, aí você rebate com argumentos, a pessoa fica naquela por algum tempo e depois termina dizendo que esse não é o lugar praquele tipo de discussão. Discussão que ela começou! (risos)”
Opinião semelhante tem a jornalista Carol Almeida, 36, que consideraria um elogio se a chamassem de partidária. “Nunca fui chamada de ‘partidária’, mas se fosse isso soaria pra mim como elogio. Mesmo porque um país sem partidos, até onde eu conheço da história, é um país em ditadura. Naturalmente, graças aos meus posts, acho que fica muito claro que posição eu tomo politicamente. Ainda sobre o partidarismo, gosto da ideia das pessoas se posicionarem claramente sobre que partido ou partidos elas se identificam.”
UOL
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