Euripedes Dias

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Quase metade dos brasileiros faz bicos ou tem segundo emprego para enfrentar a crise.

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Candidatos a emprego aguardam atendimento em agência da Secretaria de Estado de Trabalho e Renda – Custódio Coimbra / O Globo/20-8-2015

A crise econômica já altera a rotina da maior parte das famílias no país. O impacto no cotidiano é maior do que o sentido na turbulência financeira global iniciada em 2008. 

Agora, mais da metade dos brasileiros (57%) já mudou hábitos de consumo para se proteger do cenário, que deteriora-se a cada dia. 

E quase a metade (48%) já faz bicos ou até tem um segundo emprego para complementar a renda, de acordo com um levantamento feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pelo Ibope, divulgado nesta quarta-feira.

Em setembro de 2013, o percentual de entrevistados que procura aumentar a renda de alguma forma era bem menor: 25%. Entre as famílias mais pobres, com renda até um salário mínimo, um segundo trabalho é realidade para 58%. 

Já para as que ganham mais que cinco salários, o índice é de 36%. Em 40% das casas, pessoas que não trabalhavam procuraram ocupação para ajudar a família. 

E 24% das pessoas voltaram a estudar para driblar o desemprego.

Para 86% dos mais de 2 mil entrevistados em 141 municípios, o Brasil vive uma crise econômica e 66% consideram a situação ruim ou péssima. Mais da metade das pessoas (59%) tem consciência que perdeu poder de compra nos últimos 12 meses. 

E, para reduzir custos, os brasileiros chegaram até a mudar de residência (16%) e trocar os filhos de escola privada para escola pública nos últimos 12 meses (13%).

O pessimismo em relação à situação econômica do país aumenta porque o desemprego atinge conhecidos e, principalmente, parentes. Dos entrevistados, 44% disseram que alguém da família foi demitido nos últimos 12 meses. E 76% estão preocupados ou muito preocupados em ficar sem emprego ou ter que fechar o negócio.

Segundo a entidade, na crise de 2008, apenas 30% das pessoas ajustaram hábitos de consumo. Atualmente, além de o percentual ser quase o dobro, outros 21% dos entrevistados disseram que querem mudar a rotina para gastar menos. As mulheres alteraram mais seus hábitos de consumo (61%) do que os homens (53%).

De acordo com a pesquisa da CNI, 90% das pessoas passaram a pesquisar mais os preços, 77% mudaram os locais de consumo, 72% trocaram produtos por similares mais baratos, 63% adiaram grandes compras e 74% reduziram as despesas da casa.

DIFICULDADES PARA PAGAR CONTAS

Ao todo, 37% afirmaram que se endividaram para pagar despesas pessoais e 48% consideram difícil ou muito difícil pagar seus empréstimos e financiamentos com sua renda atual.

“Mais da metade (53%) se endividou sem planejamento. Do total, 60% disseram ter passado por dificuldades para pagar as contas ou compras a crédito. A dificuldade para pagar aluguel ou prestação da casa própria, por exemplo, passou de 19%, em 2012, para 29%, em 2015. Um em cada cinco venderam bens para pagar dívidas”, diz o comunicado da CNI.

Para o gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca, a crise de 2008/2009 afetou particularmente a indústria, mas o consumo ainda estava em crescimento e ajudou na recuperação.

“Já a crise atual atinge toda a economia e vem afetando o emprego e a renda da população bem mais significativamente. Tanto o investimento como o consumo das famílias estão diminuindo. 

Além disso, a crise política, que não existia na crise anterior, tem aumentado a incerteza com relação à recuperação”, disse o economista em comunicado divulgado pela entidade.
O Globo

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