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O governo de Michel Temer promoveu uma liderança do Vem Pra Rua durante a tramitação do impeachment de Dilma Rousseff no Congresso, quando o movimento contrário à petista atuava por sua saída definitiva do cargo.
Jailton Almeida, que exercia a função de carreira de analista técnico administrativo do Ministério da Integração Nacional, foi nomeado em junho pelo ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, para o cargo de confiança de coordenador-geral de participação social na gestão pública.
Segundo dados do Portal da Transparência, a remuneração dele quase dobrou com a promoção. Até junho, mês da mudança de cargo, Almeida recebia um salário bruto de R$ 5.900.
A partir de julho, já recebeu R$ 10,2 mil. Em agosto, último dado disponível, o valor da remuneração havia subido para R$ 10,8 mil.
Naquele mês também, durante julgamento final de Dilma Rousseff no Senado Federal, Almeida foi uma das 20 pessoas escolhidas pela acusação contra a ex-presidente para ter a oportunidade de entrar no plenário para acompanhar a sessão.
À época, ele tirou uma “selfie” no plenário e publicou no Facebook com a seguinte mensagem: “História não só se lê, se faz #queremosumnovobrasil”. Na ocasião, ele já ocupava o cargo de confiança no Palácio do Planalto.
PROTESTOS
Antes disso, Almeida esteve à frente de manifestações contra Dilma Rousseff em Brasília e era um dos integrantes do Vem Pra Rua que discursavam em cima dos carros de som.
Em vídeo publicado na página do Vem Pra Rua no Facebook, Almeida convida a população a se manifestar contra Dilma. “Vamos provar que o Brasil agora pertence ao povo brasileiro e não a essa organização criminosa”, diz ele.
Na publicação, divulgada um mês antes de Almeida ser nomeado por Geddel, ele é identificado como “líder do Vem Pra Rua de Brasília”.
Procurado pela Folha, Almeida disse que havia saído há cerca de seis meses do movimento. Em agosto, contudo, ele participou de audiência pública que discutiu medidas contra a corrupção e foi identificado como representante do Vem Pra Rua.
Na ocasião, o ativista citou uma frase que atribuiu a Rui Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.
De acordo com a Secretaria de Governo, a escolha de Almeida não tem relação com seu posicionamento favorável ao impeachment, mas se deve ao fato dele ter acumulado experiência junto a movimentos sociais.
OUTRO LADO
A Secretaria de Governo afirmou que Jailton Almeida foi escolhido porque apresenta “formação ética e moral”.
Segundo ela, como o funcionário público foi cedido pelo Ministério da Integração Nacional para a Secretaria Nacional de Articulação Social, o salário deve ser acrescido de 60% da gratificação referente à atual função, um DAS 4.
“A escolha está ancorada em ativos que o colaborador possui como a formação ética e moral adequada, experiência profissional condizente e sua larga convivência com atores dos chamados movimentos sociais”, disse.
O governo cita ainda bacharelado em Humanidades no Centro de Humanidades Clássicas em Salamanca na Espanha e licenciatura em Filosofia na Universidade Católica de Brasília.
Procurado, Almeida disse que estava doente e que não poderia explicar sua vinculação ao Vem Pra Rua.
Folha Press
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