Administradora da página Humor Negro, Viviane teves é atacada por mensagens cruéis exatamente dez anos depois que sofreu estupro – Reprodução/Facebook
Após dar um doloroso depoimento no Facebook sobre o estupro que sofreu dez anos atrás, Viviane Teves começou a receber, nesta quinta-feira, dia em que o ataque completa dez anos, mensagens cruéis de “feliz aniversário” pelo ocorrido.
“Desde meia-noite eu tenho recebido mensagens no meu WhatsApp. Mais de 40. Descobriram meu número e jogaram em um grupo de zoeira para pessoas aleatórias me zoarem. Todas me parabenizando por esta data e desejando que aconteça novamente”, relatou a moradora de São Paulo, que era administradora da página Humor Negro, no Facebook, extinta em 2012.
Viviane, hoje coordenadora de mídias sociais do projeto de educação eduk, também tem recebido montagens ofensivas de fotos suas e xingamentos. Ela informou que salvou os números de telefones, perfis e mensagens dos autores e já está a procura de advogados para que possa processar os autores do ataque virtual. Ela pretende denunciar o caso à Delegacia de Delitos Cometidos por Meios Eletrônicos.
“E se eu não fosse forte? E se eu não aguentasse e tentasse o suicídio? Teríamos mais um caso de suicídio por cyberbulling? (…) As pessoas pensam nas consequências de seus atos?”, questionou a jovem.
Uma mensagem publicada no grupo da rede WhatsApp “Vivi. 10 anos de estupro” expôs o número de celular de Viviane e convocou os internautas a enviarem mensagens ofensivas a ela:
“Hoje é um dia muito especial. Faz dez anos que nossa querida Vivi Teves foi estuprada e depois desse diz ela nunca mais foi a mesma. Até hoje ela está brincando de DJ e esperando um novo estupro. Então desejem parabéns a ela, afinal, não se faz dez anos todo dia”, dizia o anúncio publicado na web.
A administradora do grupo, do Mato Grosso do Sul, irritou-se com a repercussão do caso:
- Não falei nada de ofensivo para ela. Mas ela não faz uma página de humor negro? Então tem que aguentar – disse a garota, antes de desligar o telefone na cara do repórter.
Viviane explicou que os antigos fãs da página Humor Negro a atacam frequentemente para forçar que ela volte com a página. Mas essa foi a primeira vez que usaram o caso de estupro para atacar, já que a criadora da comunidade célebre ainda não havia falado publicamente sobre o incidente até recentemente.
- E eu não quero voltar. Eu cresci. Quero focar no lado profissional. Não sou mais adolescente. Então toda vez que eu falo que não vou voltar, eles me atacam assim – contou a paulistana, por e-mail.
RELATO DE VIOLÊNCIA
Num texto divulgado em sua página no Facebook na última segunda-feira, Viviane relatou o horror do ataque, na esperança de que seu relato desse força a outras jovens que passaram pela mesma situação.
“Eu relembro o rosto, eu relembro o ato, eu relembro o dia, a dor, a droga na minha bebida, a roupa rasgada, o dinheiro roubado, o carro batido. E foi apenas passar por um lugar próximo do que aconteceu que tudo voltou a tona”, recordou Viviane.
Em outro trecho do depoimento, a sobrevivente contou que até hoje sofre com as lembranças do ataque, mas que, com o apoio da família, dos amigos e do namorado consegue superar, dia a dia, a violência que sofreu.
“Hoje em dia tantas pessoas passam por isso (o que é horrível) e conseguem lidar. Eu consegui, do meu jeito. Não tenho problemas em falar isso publicamente, eu acho que esse é o tipo de assunto que todos devem saber. Todos devem se conscientizar”, afirmou.
O Globo