Ana Ikeda*
Do UOL, em São Paulo
Apesar de casos como o da atrizCarolina Dieckmann, que teve fotos íntimas expostas sem sua autorização na internet, serem os que ganham notoriedade na mídia, o problema tem sido cada vez mais comum com pessoas fora do mundo das celebridades. A falta de cuidado com arquivos que contêm informações sensíveis pode acabar custando caro, causando danos irreparáveis, já que é quase impossível retirar totalmente o conteúdo da internet uma vez que ele foi publicado. Veja a seguir algumas dicas de especialistas em segurança consultados pelo UOL Tecnologia para evitar a exposição desses dados.
Privacidade exposta: Isso pode acontecer com qualquer um
A primeira dica é a mais óbvia: evite produzir fotos de si mesmo em situações (para lá) de íntimas. Casos de pessoas famosas (a atriz Scarlett Johansson também foi uma das vítimas mais recentes) indicam que o hábito dos casais em gravarem vídeos e fotos de sua intimidade não é acompanhado do cuidado em manter esses arquivos longe de terceiros. “Isso é cada vez mais recorrente, tanto com famosos como não famosos”, alerta Gisele Arantes, especialista em direito digital e sócia do PPP Advogados.
A maioria dos casos no Brasil que vão parar na Justiça envolve namorados que, ao terminar a relação, publicam na internet fotos e vídeos das namoradas, como forma de vingança. “A sensação de impunidade que as pessoas têm na frente do computador ainda é muito grande, as pessoas acham que estão no anonimato, o que contribui ainda mais para a prática”, diz a advogada.
Cuide dos seus dados online como você cuida da sua carteira, da sua bolsa
Você não tem o costume de deixar sua carteira cheia de dinheiro ou a sua bolsa largada em qualquer lugar sem alguma vigilância. Então por que agir assim em relação aos seus dados na internet? “Cuidar da segurança online deve ser uma rotina. Dois ou três minutos que você perde a mais ajustando uma configuração de privacidade podem economizar alguns meses ou anos de dor de cabeça”, aconselha Wanderson Castilho, especialista em crimes digitais e membro no Conselho da Cyber Defense Education (CDE).
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Faça o check-list dos cuidados básicos de segurança
Mesmo que você não saiba muito sobre tecnologia, existem cuidados simples que evitam o acesso fácil aos seus arquivos. Computadores, celulares e tablets possuem a opção de travamento por senha. Você só consegue usá-los depois de digitar uma senha numérica ou alfanumérica (com letras e números; veja aqui como criar uma “forte”).
Outra precaução é manter instalado no dispositivo, inclusive nos smartphones e tablets, um software antivírus. Eles podem detectar e eliminar ameaças comuns que circulam na internet, como vírus e cavalos de troia (trojans).
“Existem programas maliciosos [trojans] são enviados por e-mail como anexo ou estão presente em links. Uma vez instalados no computador, permitem que o cibercriminoso controle remotamente a máquina, capturando os dados que lhe convier”, detalha Patrick Faria, especialista em segurança da informação da Módulo.
Isso inclui, por exemplo, a senha que você digita no banco online e até as imagens que sua webcam faz. Portanto, também vale redobrar a atenção quando for abrir algum link ou anexo enviado por e-mail, mesmo que tenha sido enviado por alguém de sua confiança.
Criptografia: saiba o que é e use
Há uma série de ferramentas que utilizam a criptografia, uma espécie de embaralhamento dos dados digitais, que só podem ser vistos por quem tiver uma senha para reorganizá-los no formato original, para proteger seus arquivos de bisbilhoteiros e gente com más intenções. E isso vale não apenas para “fotos íntimas”: você gostaria que alguém olhasse sua declaração de imposto de renda? Seus comprovantes bancários?
Uma delas, indicada por Castilho, é a TrueCrypt, gratuita. Ela cria, seja no disco rígido do seu computador ou em um pen drive, uma espécie de “fortaleza digital”. “Quando o usuário transferir arquivos para esse local, os dados são criptografados. Se o computador for para a assistência técnica, por exemplo, os técnicos conseguem ver a pasta, mas não têm acesso aos seus arquivos, pois é necessário digitar uma senha”, explica.
Se não quer usar esses softwares de criptografia, outra opção é apagar os arquivos do disco rígido do computador e deixá-los salvos em um mídia externa (um HD portátil, pendrive, CD). Mas ainda assim, existem softwares que recuperam arquivos deletados, para ter certeza de que eles não seriam pegos, o usuário deveria deletá-los com ferramentas especiais.
Também existem aplicativos que apagam as mensagens e arquivos enviados alguns segundo após a visualização, mas é preciso ter “coragem” para confiar na eficiência deles.
Evite assistências técnicas “genéricas”
A defesa contratada por Carolina Dieckmann não comenta a linha de investigação sobre o vazamento das fotos da atriz nua na internet. Mas, elas supostamente podem ter sido vazadas após o computador pessoal da atriz passar por manutenção na assistência técnica.
Se você é uma pessoa pública ou não, os especialistas fazem coro para alertar: evite levar seu computador, celular ou tablet para conserto em empresas que não são reconhecidas no mercado, que foram indicadas “pelo amigo do amigo do amigo”. “Empresas especializadas vão respeitar a confidencialidade da informação, assinar um termo de responsabilidade junto ao usuário”, diz Castilho.
Já Faria é mais cauteloso em relação ao efeito do termo de responsabilidade firmado com a assistência técnica. “A recomendação é que a pessoa procure uma empresa conhecida e assine o contrato de serviço em que haja a cláusula de confidencialidade. Isso não evita a divulgação, mas dá segurança jurídica ao cliente se ele precisar acionar a empresa”, afirma.
Não confie em redes Wi-Fi públicas
Para quem usa smartphones e tablets, encontrar uma rede de internet sem fio pública é motivo de alegria (e economia do plano de dados 3G). Mas é preciso ter muita cautela ao se conectar ao Wi-Fi aberto.
“Se o usuário não tem uma solução de criptografia, o que é o mais comum, deve evitar o Wi-Fi público. Não dá para saber se por trás dessa rede existem geradores que conseguem ‘ler’ tudo o que é trafegado naquele ponto de acesso”, avisa Patrick Faria, especialista em segurança da informação da Módulo. Dessa forma, se alguma informação sensível for enviada pelo Wi-Fi público, pode ser capturada e reproduzida.
Minhas fotos, vídeos ou dados foram parar na internet. E agora?
O primeiro passo, indica a advogada Gisele Arantes, é tentar remover esse conteúdo da internet, procurando os provedores (como, por exemplo, sites de busca). “Você, por meio de um advogado, notifica os provedores. A partir dessa notificação, eles também passam a ser responsáveis pela divulgação daquele material, você avisou a empresa que alguém está usando o serviço dela para cometer ilícitos.”
Segundo Gisele, também é possível procurar uma delegacia especializada em crimes digitais, além de entrar com uma ação para que sejam revelados os registros eletrônicos que identificam as pessoas responsáveis pela divulgação do material na internet.
Para isso, lembra Faria, é preciso preservar a prova, principalmente se o conteúdo “vazou” de um dispositivo pessoal. “Evite mexer no computador porque isso pode prejudicar a investigação forense, com a perda da prova do acesso.”
Após isso, a vítima deve buscar a reparação de danos, que pode ocorrer tanto na esfera cível como na criminal, dependendo do caso. “No caso da atriz, por exemplo, houve a tentativa de extorsão, que terá punição na esfera criminal. Mas nem sempre isso ocorre. Existem casos em que o namorado divulga imagens da namorada, que tem punição na esfera cível”, diz.
“Dificilmente você vai conseguir eliminar o conteúdo totalmente da internet, mas pelo menos dos sites mais acessados vai conseguir”, avisa Gisele, que revela ainda que a indenização conseguida por algumas vítimas é alta – em casos recentes, os ex-namorados tiveram de indenizar em R$ 50 mil e R$ 10 mil as parceiras que tiveram fotos íntimas publicadas na internet sem autorização.
FONTE: UOL
*Com colaboração de Camila de Lira