Na primeira noite de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio, a bolsa de apostas não se confirmou e Salgueiro –vice-campeã em 2014, mas que neste ano não figurava nas listas de favoritas– despontou como o principal destaque, com um desfile luxuoso sobre a culinária mineira.
Outra escola que se apresentou bem e não estava nas “cabeças” foi a Vila Isabel, que homenageou o maestro Isaac Karabtchevsky e a música clássica.
Ambas também foram favorecidas por passar pela avenida na segunda metade do desfile, que aconteceu sem chuva, ao contrário do cenário encontrado pelas três primeiras escolas. A Grande Rio também desfilou no “seco” e fez uma boa apresentação.
Penúltimo a desfilar, o Salgueiro trouxe carros e fantasias grandes, luxosos e bem acabados desde o início do desfile. Na comissão de frente, bailarinos representavam “índios enlouquecidos” que faziam acrobacias na avenida, segundo seu idealizador, o coreógrafo Hélio Bejani.
No abre-alas, seguiam as referências à cultura indígena. O segundo carro, que representava o garimpo de diamantes, foi o mais aplaudido. Na alegoria estavam os protagonistas da novela da TV Globo “Império”: Leandra Leal (Cristina), Alexandre Nero (comendador José Alfredo) e Lília Cabral (Maria Marta) -os três cantavam o samba e arrancavam gritos da plateia.
Outra alegoria retratava a mineração de ouro. A culinária e os costumes mineiros também integraram o desfile. Até mesmo o samba, que não estava entre os mais comentados da temporada, cresceu na avenida e ajudou na apresentação da escola, que se destacou numa noite de desfiles sem grande brilho.
Sem grandes expectativas, a Vila Isabel, que em 2014 fez um desfile com muitos problemas, conseguiu fazer uma apresentação que agradou o público, a começar pela comissão de frente, composta por bailarinos (no chão) e acróbatas, que saltavam numa cama-elástica.
O enredo sobre Karabtchevsky permitiu ao carnavalesco Max Lopes criar fantasias e alegorias luxuosas e coloridas. No abre-alas, todo em dourado, vinha o maestro. Outro maestro foi retratado numa alegoria, junto a seu trenzinho caipira: Villa-Lobos.
Última a entrar na Sapucaí, a Grande Rio começou seu desfile com “truques” na comissão de frente, cujos componentes representavam os personagens de “Alice no País das Maravilhas” e foram “cortados ao meio” em determinado momento, virando um par de anões, que dançava junto.
O abre-alas, uma alegoria que ilustrava o enredo “A Grande Rio é do Baralho” e era formada por dois carros acoplados, teve problemas, deixando sua primeira metade sem iluminação.
Em todo o desfile, as referências aos jogos de cartas, adivinhações e povos que usavam cartas, como ciganos, foram uma constante.
CHUVA ATRAPALHA
A Mocidade Independente de Padre Miguel, tida como uma das favoritas, saiu do sambódromo sem a esperada aclamação popular, apesar de ter começado seu desfile bastante aplaudida.
Neste ano, a escola contratou a peso de ouro o carnavalesco campeão Paulo Barros, que veio da Unidos da Tijuca com a missão de levar a agremiação novamente ao seu auge.
Para isso, criou um enredo que lançava a pergunta: “Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria se só te restasse um dia”, inspirado numa música de Moska. A resposta talvez não tenha sido a esperada.
A escola trouxe ainda à frente da bateria a cantora Claudia Leite, estreando na Sapucaí.
Abatida pela chuva, a Mocidade fez um desfile sem grandes destaques e no qual as “surpresas” de Paulo Barros surtiram menos impacto do que em outros Carnavais. Em duas alegorias, o carnavalesco ousou ao colocar integrantes semi-nus. Em uma delas, casais e trios simulavam cenas de sexo -a imagem se alternava com “anúncios” de motéis fictícios.
Em outra, que representava a estação de trem de Padre Miguel, integrantes surgiam vestidos e tiravam a roupa na frente do público.
Também sob forte chuva, a Mangueira entrou na Sapucaí entre as favoritas, muito em razão do samba-enredo inspirado em uma música de Benito di Paula, “Mulher Brasileira”. “A chuva não nos preocupa. Era o que eu queria. Estamos vivendo a maior crise hídrica da história, eu quero mais é chuva”, disse Chiquinho da Mangueira, presidente da escola, antes do início da apresentação.
A escola começou bem, contando a história das mulheres da agremiação, com um abre-alas grandioso, nas cores da agremiação (verde e rosa) e com decoração em rosas. O carro foi precedido pela ala das baianas e o casal de mestre-e-sala e porta-bandeira. Da alegoria saía um odor de rosas.
A partir da metade do desfile, porém, a chuva pareceu minar o fôlego dos componentes, cujo fôlego já não tinha o mesmo vigor. Ao mesmo tempo, alegorias e fantasias perdiam o brilho e o luxo do primeiro carro e das alas iniciais.
Retratada em um carro que homenageava ainda cantoras mangueirenses, Alcione queimou o pé num refletor. Foi atendida no posto médico da dispersão e levada de ambulância a um camarote. Passa bem, segundo a equipe médica da prefeitura.
Primeira a desfilar, a Viradouro fez um desfile repleto de referências à cultura afrobrasileira. A escola usou como base de seu enredo dois sambas do compositor Luiz Carlos da Vila. Fundidas numa só, as composições não funcionaram tão bem e o samba não empolgou.
O que mais chamou a atenção foi a presença do tenista espanhol Rafael Nadal, que veio na ala de diretores à frente da escola, acompanhado do ex-tenista Gustavo Kuerten. Econômico nas palavras, Nadal se disse apenas “feliz e contente” por desfilar.
FOLHAPRESS